POLÍTICA 22/06/2013
Ao jovem manifestante
Finalmente os
organizadores do Movimento Passe Livre (MPL) vieram a público para condenar a
violência contra os partidos, que se vê nas manifestações, nas quais muitos dos
jovens participantes iniciam a militância política (sim, vocês fazem política).
Esse tipo de
intolerância - gente queimando bandeiras de partidos, agredindo seus militantes
e os expulsando das passeatas - é o ovo da serpente do fascismo: é preciso que
isso seja dito claramente.
O movimento é
justo, mas não se pode aceitar tudo o que fazem qualquer um dos participantes,
como se fossem crianças mimadas, que não podem ser contrariadas.
E foi devido à
hostilidade aos partidos e ao aumento do número de manifestantes que propõem
“pautas conservadoras” (como a redução da maioridade penal) que o MPL decidiu
suspender novas convocações para novas passeatas.
É certo, pois a
pluralidade - que tanto se vê nesses movimentos - tem de valer também para
aqueles que optam por se filiar a partidos políticos. Aceitar o contraditório,
conviver com as diferenças, deveria ser a bandeira intocável do movimento,
senão, o negócio vira Marcha da Família com Deus pela Liberdade. (Aos jovens
que nunca ouviram falar disso, sugiro uma googlada).
Ser apartidário não
significa ser antipartidário, como bem disseram os representantes do MPL.
Criminalizar militantes políticos, a ditadura já o fez muito bem, e todos -
creio que até os jovens - sabem onde isso termina. Mas vou repetir: termina em
autoritarismo, em fim das liberdade, em censura, em tortura. E foi essa ditadura
que as gerações anteriores combateram.
Tudo bem, PT e
PCdoB estão hoje no governo, trocaram as ruas pelos gabinetes. Mas foram os
militantes do PCdoB que morreram no Araguaia; foram os dirigentes deles que
foram covardemente assassinatos na “Chacina da Lapa” (Google, por favor); foram
os caras vindos da luta armada (quantos morreram? quantos foram torturados?),
que construíram o PT junto com os operários do ABC e continuaram o confronto
com ditadura, em passeatas, greves e manifestações (tão grandes quanto as de
hoje), que desaguou na luta das Diretas Já - e na democracia. E o fizeram
quando isso dava cadeia, tortura e morte, e não apenas balas de borracha e
bombas de “efeito moral”.
Estavam nessa
perigosa linha de frente as organizações trotskystas, comunistas, democráticas
- e gente que não tinha partido, como as bravas mulheres do Movimento Feminino
da Anistia. Havia divergência, disputa de palavras de ordem nas passeatas - mas
seria impossível passar pela cabeça de alguém cassar o direito do outro de se
manifestar.
Pois bem, meus
jovens amigos, são esses caras que alguns de vocês violentam hoje, com
xingamentos, tomando-lhes as bandeiras que eles levantaram no passado, com
risco da própria vida. Foram eles que abriram a picada e deixaram o campo
aberto para o espraiamento da democracia, que vocês tanto embelezam com suas
reivindicações.
Não é preciso
concordar com os velhos militantes, com aqueles filiados a algum partido, mas
eles merecem respeito. Sei que a maioria de vocês se horroriza com o
comportamento de alguns manifestantes, mas não basta isso, é preciso garantir
aos militantes partidários o direito democrático de se expressarem.
Pois se o movimento
continuar nessa toada - espremido entre arruaceiros e aprendizes de ditador - a
grande vitória que conquistou transformar-se-á em derrota avassaladora.
INCÔMODO
Resolvi
escrever essas linhas ao ver o modo como o vereador João Alfredo (Psol) foi
tratado por alguns manifestantes no ato de quinta-feira (em frente à Assembleia
Legislativa). Foi chamado, em coro, de “oportunista”, cercaram-no, gritavam e
não deixavam que argumentasse. Discorde-se de João Alfredo, mas ele é um dos
que descrevi acima. A ditadura calou uma geração à força, será que vocês querem
continuar o serviço?
ARRUAÇA
Este jornal acertou em cheio com a
manchete de ontem: “Isto é democracia” (com fotos mostrando manifestações
pacíficas); “Isto é vandalismo” (com fotos mostrando tais atos).
É preciso deter os
vândalos que estão promovendo essas barbaridades Brasil afora. E, mais do isso,
identificá-los para saber se são simples arruaceiros ou um segmento fascista
organizado, atentando contra a democracia, para depois bater às portas dos
quartéis.