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Ideias de um intelectual militante

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 Fonte:O POVO
Páginas Azuis
Boaventura de Sousa Santos 28/10/2013 

Ideias de um intelectual militante

Um dos intelectuais mais conceituados da atualidade, o sociólogo português Boaventura de Sousa Santos conversou com O POVO na última sexta-feira, em Fortaleza, onde participou do Encontro Internacional de Ecologia de Saberes

O português Boaventura de Souza Santos tem o olhar firme, tanto quanto as palavras que profere. É expressão das convicções de um dos sociólogos mais festejados da atualidade. Aos 72 anos, é professor da Universidade de Coimbra, sua cidade natal, e das universidades de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, e de Warwick, no Reino Unido.

Filho de operários, aprendeu a atravessar o mundo na década de 1960, dividido entre os estudos em Berlim Ocidental e uma namorada em Berlim Oriental. Mas escolheu o marxismo nos Estados Unidos, em plena tensão da Guerra do Vietnã. “De alguma maneira, foi nas entranhas do monstro que são os Estados Unidos que eu me radicalizei”.

Ele credita ao Brasil muito do que é. Esteve aqui pela primeira vez em 1970, viveu na favela do Jacarezinho. Daquela Pasárgada, como ele chamava o lugar em referência ao poema de Manoel Bandeira, ficaram lições. “Aqueles homens e mulheres viviam no meio de muito sofrimento, mas também de muita alegria”. Também traz lembranças do Recife da década de 1980, entre os conflitos do Agreste, menciona o fascínio pelo cearense Dom Hélder Câmara.

Em entrevista na última sexta-feira em Fortaleza, onde participou do Encontro Internacional de Ecologia de Saberes, disse que o Brasil passa por uma modernização conservadora. Afirma com a didática do professor que é, na qual o baile tranquilo das mãos tem papel fundamental, que parte do poder latino-americano se deve a “desatenção” dos Estados Unidos.

Mas o tom muda quando as interrogações lhe soam conservadoras durante a entrevista. Menos professor e mais militante, interrompe as perguntas e suas respostas passam a requerer pontos de exclamação na transcrição. “Tenho hoje pouca paciência com jornalistas conservadores, que estão a serviço das empresas, e que vêm fazer entrevista comigo para me chatear”. Por algumas vezes, pediu para encerrar a entrevista, mas cedeu ao apelo da repórter para que fossem adiante. “Esse é o papel da imprensa”, reconheceu sorrindo ao fim da conversa na Casa José de Alencar.

O POVO - O senhor é filho de operários. Foi em casa que nasceu sua opção pelo marxismo?
Boaventura Sousa dos Santos - Fui o primeiro estudante de direito que vinha da classe operária, o que era um escândalo. Estudei filosofia em Berlim Ocidental, onde namorei uma alemã que morava em Berlim Oriental, quando conheci a realidade do socialismo real e da republica democrática da Alemanha. Eu atravessava o mundo todos os dias. Mas a minha opção socialista foi construída mais tarde. No final da década de 1960, fui estudar nos Estados Unidos. Era o auge da luta contra a Guerra do Vietnã. De alguma maneira, foi nas entranhas do monstro que são os Estados Unidos que eu me radicalizei, me formei politicamente. Também do ponto de vista teórico, de uma sociologia crítica. Era uma sociologia mais sensível à luta politica.
OP- Em seguida, o senhor veio para o Brasil?
Boaventura - Eu escrevi como tema na área da sociologia do direito uma dissertação sobre estudar e viver numa favela no Rio de Janeiro, em Jacarezinho, em tempo de ditadura, em 1970. Morei cerca de meio ano nessa favela, que eu chamei Pasárgada, o tema do Manoel Bandeira.
OP - Como foi sua relação com essa Pasárgada?
Boaventura - Era um momento duro da ditadura brasileira e não era muito frequente o tipo de estudos que eu vivi. Essa foi a minha grande lição de vida. Foi uma experiência muito rica para mim de viver cotidianamente aquelas pessoas, algumas das quais eram analfabetos sábios. Eu consegui a confiança de líderes, de partidos comunistas e de grupos nas associações de moradores. O meu trabalho era analisar o que acontecia na associação dos moradores, como surgiam os litígios. Aqueles homens e mulheres acordavam 5h,6h para ir trabalhar, chegavam à meia-noite. Viviam no meio de muito sofrimento, mas também de muita alegria.
OP - De lá, o senhor foi para os Estados Unidos?
Boaventura - Eu estava já viajando com um emprego nos Estados Unidos, trabalhava com a universidade. Foram momentos muito importantes e eu iria seguir a carreira internacional. Mas a revolução de 25 de fevereiro me levou a tomar conta do meu país e fiquei à frente de uma faculdade que tinha acabado de ser criada, de economia. Mas sempre mantive contato com o Brasil. Em 1980 voltei para escrever a pesquisa. No Recife, trabalhei com Dom Hélder Câmara, uma pessoa fascinante. E vivi muito as ocupações urbanas, muita violência no agreste contra os líderes.
OP – O senhor diz que o Brasil vive uma modernização conservadora. O que isso significa?
Boaventura - O Brasil está num processo de modernização que eu considero conservadora porque assentada fundamentalmente num desenvolvimentismo com certo controle de estado. Não é propriamente um governo de direita que entregaria tudo às privatizações. O Brasil possui direcionamentos nacionais como vimos com o leilão do pré-sal, mas fica por aí. Não procura dar atenção a outra coisa que não seja reduzir a pobreza, o que é muito importante. Mas as pessoas depois de comerem três vezes ao dia querem uma boa educação, bom transporte público... É um absurdo que o Brasil seja um dos países onde mais se praticam cesáreas. O capitalismo entrou muito na vida das pessoas especialmente na saúde.
OP – E na política, como estamos?
Boaventura - Temos um poder político dividido, entre um governo que continua a pensar como um progressista, mas emergiu de lutas muito importantes. Conseguiu certa inclusão social e econômica, embora os ricos também tivessem aumentado muito suas riquezas. Os partidos transformaram-se em agências do poder, o PT não se renovou, os movimentos sociais pensaram que tinham um amigo no poder e adormeceram. Os próprios partidos deixaram de fazer seu trabalho, há certa terceirização da militância.
OP – Quais as diferenças entre Lula e Dilma?
Boaventura – Lula era mais amigável com os movimentos sociais, existia a possibilidade de falar com o presidente. Existia uma política neoliberal, mas com uma consciência social que se perdeu um pouco com a presidente Dilma. Talvez por causa da sua austeridade, sua resistência em receber movimentos sociais. E há uma receptividade maior (da Dilma) ao capital financeiro e industrial. Há também a intenção de que o Brasil se desenvolva a nível internacional. Mas há outros aspectos interessantes. Dilma foi a mulher que, corajosamente, enfrentou Obama, ao cancelar visita à Casa Branca. Ninguém podia imaginar que um presidente da América Latina enfrentasse ao grande país hegemônico. Mas, por outro lado, não abriu espaço para a democracia participativa. A frustração nos levou às ruas. E não penso como alguns amigos queridos, como Marilena Chauí, que acreditam que esses protestos são de uma classe média desencantada e, portanto, com certo perfil de direita. Os indignados na Espanha e em Portugal querem o mesmo: uma democracia real. Querem ser incluídos politicamente.
OP – Os conceitos de direita e de esquerda ainda servem para definir as ideias hoje?
Boaventura - Servem mais do que nunca. Não serve é como está a direita e a esquerda. O que chamam de progresso é a concentração do poder econômico e a transformação desse poder em poder político, com detrimentos das classes populares. Se a esquerda for realmente isso, que é o que acontece na Europa hoje, isso não faz sentido. No entanto, nós da Europa, o que estamos vendo é uma renovação do pensamento de esquerda. A esquerda tem que se renovar e deixar de ser refém do que se chamou na Europa de terceira via que foi aceitar o neoliberalismo, as privatizações, a liberalização, a desregulamentação do Estado, etc. Portanto, a esquerda nunca fez tanto sentido como hoje, mas tem que ser outra esquerda.
OP – Quais as semelhanças entre Lula, o presidente boliviano Evo Morales e o ex-presidente venezuelano Hugo Chávez?
Boaventura - São entidades muito distintas. Mas que trazem algo de inovador, que na verdade trouxe a América Latina a nível mundial. Há governos progressistas importantes neste continente. Mas na primeira década (nos anos 1990) houve um período muito luminoso porque teve governos progressistas que fizeram transformações importantes, contra as oligarquias e pensamentos conservadores, ditatoriais. Eles são diferentes entre si, mas que tem em comum uma coisa: chegaram ao poder com base em movimentações populares, de forma democrática, com programas de inclusão social. O Bolsa Família não é nada revolucionário. Tinha até sido teorizado pelo Banco Mundial como política compensatória, mas foi isso o que permitiu que milhões saíssem da pobreza. Temos muitas diferenças entre estes governos, então o que há de comum entre eles? Nenhum deles mudou o modelo capitalista. Deram mais peso ao estado, mas, acima de tudo, aproveitaram o boom dos recursos naturais devido ao desenvolvimento da China.
OP - A que se deve isso o aumento do poder da América Latina?
Boaventura - Isto foi uma coincidência histórica que se deveu a dois fatores. O primeiro foi o desenvolvimento da China, que valoriza os recursos naturais. A esquerda latino-americana tinha esse pecado original de ser contra o desenvolvimento, mas, quando chegou ao poder, viu que poderia ser desenvolvimentista. E, com desenvolvimento, fazer distribuição social. Este é o primeiro fato. O segundo é que os Estados Unidos estavam concentrados no Oriente Médio e não prestaram atenção ao que acontecia na América Latina, porque, em outros tempos, eles não tinham autorizado esses governos.
OP – Os avanços sociais acompanharam esse aumento de poder?
Boaventura - O continente conseguiu essas políticas, mas não cuidou de duas coisas: das populações e dos direitos coletivos. O governo está se tornando cada vez mais conservador, sem responsabilidades ambientais.
OP – Existe uma saída? Um modelo ou país que...
Boaventura – (interrompe) Com todo respeito, essa é uma pergunta errada. É uma pergunta conservadora. Haverá algum país que faça a diferença? Você imagina que o Brasil poderá fazer a diferença pela primeira vez? Ou a Bolívia? Nós reunimos 35 mil pessoas em Cochabamba (Bolívia) para mostrar que era possível fazer coisas novas nesse continente. Portanto, há outros modelos possíveis. Mas são os modelos que ninguém está a pedir. É uma coisa extremamente perigosa da direita. Quando se faz a mínima crítica, o neoliberalismo diz que não há alternativa.

OP - E qual é a alternativa?
Boaventura - Veja, os Estados Unidos dizem uma coisa e fazem outra. E a Europa agora tem que fazer o mesmo. Portanto, o neoliberalismo é uma grande farsa! Há alternativas para eles, mas eles não divulgam porque não querem que todo mundo faça. No Canadá, as empresas de mineração são impecáveis na questão do meio ambiente, respeitam as questões dos direitos dos povos indígenas, etc. Mas chegam no Brasil ou em Moçambique e atuam de outra maneira. É preciso e necessário cuidar do meio ambiente e desses jovens que querem uma democracia real. Esta é a alternativa! Se você fosse filha ou mulher do José Maria (José Maria do Tomé, agricultor assassinado com 25 tiros em Limoeiro do Norte, depois de denunciar impactos do uso indiscriminado de agrotóxicos na região), não me faria essa pergunta. Tem que haver uma alternativa porque esse desenvolvimento está a matar gente.
OP – O progresso destrói a democracia ou...
Boaventura - (interrompe) Não tem nada a ver com o progresso, minha amiga! É a acumulação de capital. É encher os bolsos de super ricos. Isso não é progresso! É concentração de riqueza. É a destruição do meio ambiente. O progresso é um mito que está totalmente desacreditado. Eu não acredito no mito do progresso.
OP - Nos seus estudos...
Boaventura – (interrompe) eu acho que está na hora de terminar a entrevista.
OP - Só mais uma pergunta... O senhor analisa a sociologia das emergências versus a sociologia das ausências. Fala das experiências humanas. Quais as experiências que entram na sua análise?
Boaventura - O que eu chamo de sociologia das ausências é fundamentalmente as experiências das pessoas que lutam pela dignidade da vida, mas que são desconhecidas, são humilhadas, são mortas, violentadas . A sociologia das ausências representa as pessoas do Brasil que não conhecem o José Maria, por exemplo. Trazer a sociologia da emergência é mostrar a urgência do desenvolvimento de um modelo que está a destruir a vida.

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Feminicídio em Fortaleza: inoperância da Segurança Pública

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Fonte: O Povo

Editorial 26/10/2013
Feminicídio em Fortaleza: inoperância da Segurança Pública
O Ceará é o 6º Estado da Região Nordeste com maior índice de violência contra a mulher
A Fortaleza está chocada com a presumida desídia da Polícia no caso do assassinato da pedagoga Andréa Aderaldo Jucá, esfaqueada 20 vezes pelo ex-suplente de vereador e ex-marido Alan Terceiro, no último dia 13, no bairro Rodolfo Teófilo. Detalhes revelados pela reportagem do O POVO demonstram que a tragédia provavelmente poderia ter sido abortada se as radiopatrulhas acionadas pelo Ciops (Coordenadoria Integrada de Operações de Segurança) após inúmeras ligações de vizinhos, tivessem atendido aos chamados.

Os registros do Ciops acusam os telefonemas dos vizinhos desesperados com os gritos da vítima, quando ainda estava sendo espancada e pedia socorro. Mesmo avisado da gravidade do que estava acontecendo, o Ciops não conseguiu que as viaturas acionadas acorressem ao local em tempo de evitar o desfecho fatal. Os registros indicam, claramente, a inoperância completa de um serviço do qual depende a segurança e a vida dos cidadãos.

Não é por outra razão que a população se sente abandonada e os potenciais criminosos com autoconfiança suficiente para agir com completo desprezo aos órgãos punitivos. Muitas vezes, de maneira covarde, como no episódio em que uma mulher indefesa vê-se acuada em seu próprio lar. Mais grave ainda porque se trata de um acontecimento ocorrido na própria capital do Estado (onde estão localizados os principais equipamentos da segurança pública) e não num rincão distante no Interior. Ora, se no principal bastião da Polícia as coisas ocorrem dessa forma, o que pode esperar o cidadão de outras áreas do Ceará?

A insegurança deixa ainda mais exposta a vulnerabilidade das mulheres. O Ceará é o 6º Estado da Região Nordeste com maior índice de violência contra a mulher em relação à taxa de homicídios femininos. No período entre 2007 e 2011, foram vítimas de feminicídio, em média, 5,22 mulheres a cada 100 mil. Os dados são do Instituto de Pesquisa Econômica e Aplicada (Ipea). O Ipea também constatou que 29% desses óbitos ocorreram na casa da vítima – o que reforça o perfil das mortes como casos de violência doméstica.
O que aconteceu no último dia 13 em Fortaleza é uma vergonha para a segurança pública do Estado. Não é possível aceitar a continuação desse quadro de completa vulnerabilidade da mulher cearense.

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O sol por testemunha

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fonte: DIÁRIO DO NORDESTE
caderno3

COLUNA
Gervásio de Paula
caderno3@diariodonordeste.com.br
09.10.2013

O sol por testemunha

Ontem eu vi uma das coisas mais belas da natureza, que, embora comum no Ceará, causa sempre um estranhamento de beleza. O sol, como uma grande bola no céu, se punha a minha frente e me fazia crer que o mundo é muito maior do que domina o homem. Os últimos acontecimentos de troca de partidos na cena cearense, me lembrou que tentar ocupar o lugar do sol não é tarefa fácil e muito improvável de ser alcançada.
Me recordei da minha trajetória partidária e o que aprendi com ela. Como fui me construindo como sujeito a partir dessa experiência e o que significa ser partidário de um projeto político. Lá pelas décadas de 1950 e 1960, só existia um partido clandestino, que era o PCB. Embora fosse clandestino, era o partido com o maior número de adeptos. Elegias senadores, elegeu Prestes, muita gente famosa.

O partido tinha um amplo quadro de militantes, das mais diversas classes sociais. Sapateiros, operários, empregados da REFFSA, comerciantes. Só quem concorria com o PCB era a Igreja Católica, que chegou a espalhar que comunista comia criancinha para não perder seus fiéis. Como se ser do PCB significasse fazer parte de outra religião que levaria os adeptos católicos para outros rumos. O partido àquela época tinha muita força, chegou até a ser autossuficiente, no entanto, a melhor experiência eram as células que estavam espalhadas pelas comunidades. Foi em uma delas que tive o primeiro desejo de me partidarizar, aos sete anos de idade. Meu pai era do partido e fazia parte de uma célula. Eu nem tinha entrado na escola ainda, pois no meu tempo só havia ensino formal a partir dos 7 anos. Meu pai então não permitiu que eu entrasse no partido com a seguinte justificativa: "Meu filho, só entra no PCB quem estuda muito ou quem vive trabalhando em fábrica". Era essa a imagem que ficava, era um partido operário ou de intelectuais.

O PCB também tinha dos seus conservadores, que são diferentes dos reacionários. Meu pai era um conservador, tanto era que ia ao mercado comprar um sapato para minha mãe e media o seu pé em casa, para não deixá-la sair para comprá-lo. Mas esse era o homem de seu tempo, com a fragilidade que a masculinidade exigia, embora tivesse muito compromisso com um outro mundo possível. Eu, finalmente, ingressei no PCB aos 17 anos e transmiti muitos jogos de futebol para o partidão. Eu entrei no partido, não porque entendesse à época profundamente a luta de classes, mas pela beleza que via naqueles grupos que se organizavam em cada célula pensando um outro mundo, uma outra sociedade. Existia um compartilhamento de ideias e informações muito frequente, a partir dos pequenos jornais, dos panfletos nas portas de fábrica, pichações e nas reuniões clandestinas que aconteciam na calada da noite.
As pessoas se formavam naqueles espaços, se transformavam em outras pessoas. Para usar o termo de Paulo Freire, ali se promovia a autonomia dos sujeitos para pensar a vida e a política. Obviamente, ali também se conspirava, se pensavam estratégias de derrubada de governos. Fomos nós que elegemos Getúlio no seu segundo mandato, com o apoio de Prestes na sua saída da prisão. O PCB tinha a hegemonia do movimento operário brasileiro e foi responsável pela derrota de Juarez Távora e do Brigadeiro Eduardo Gomes, com a eleição de Getúlio.

O PCB passou pouco tempo na legalidade nesse período. Com a morte de Getúlio e a queda de Jango, o golpe militar trouxe os momentos de maior dificuldade e maior atividade do PCB. O partido sentiu na carne a luta pela democracia. Perdeu muitos de seus quadros e foi testemunha da tortura militaresca aos ativistas.

Ali se pensava uma sociedade junto com a sociedade. Nas ruas e vielas, nas casas de amigos da revolução, nos bares células, nas gráficas, nas esquinas de fábricas. O pedreiro, o encanador, o jornalista, o músico, o ascensorista, o dono da bodega da esquina, o escritor discutiam política e defendiam uma outra política. Se exacerbavam, discordavam, se solidarizavam com a perda de alguém querido, se cotizavam para pagar o aluguel de alguém que estava na pior, faziam o corte de cabelo de graça para o companheiro de partido e ali se vivia o mais bonito dos processos coletivos de construção de uma outra via.
A radicalidade foi amornando ao longo do tempo, mas a perspectiva coletiva partidária se mantinha. Fomos responsáveis por parte da reforma constitucional, a reforma da saúde está permeada pelos companheiros de partido, a exemplo de Sergio Arouca e muitos outros. Estes homens não queriam se transformar no sol mas queriam que esse sol fosse visto e compartilhado por todos. Já, na atualidade, nenhum constrangimento haverá se alguma confraria política não partidária expuser em cada esquina reluzentes placas, com os dizeres: "Vendem-se legendas e almas".


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