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POR QUE É TÃO DIFÍCIL PARTICIPAR?


POR QUE É TÃO DIFÍCIL PARTICIPAR?
Gustavo Luís Gutierrez

         A participação é um desafio. Não há dúvida de que é mais fácil mandar fazer algo e depois premiar ou punir que realizou a tarefa, a partir de critérios não muito claros. E atuar de forma participativa é também muito complexo. A intenção aqui foi apontar alguns dos limites das práticas mais comuns de participação, tomando como exemplo concreto o campo educacional, e avançar na sua reflexão incorporando as contribuições de Habermas, Kholberg e Bion no sentido de ilustrar até que ponto a idéia de participação pode estar envolvida com a sociabilidade, a política e a própria subjetividade das pessoas.
            A participação é, em última instância, o desenvolvimento da aptidão para o diálogo, ou seja, é um trabalho sem fim. Sempre é possível entender melhor os fatos e as pessoas que nos rodeiam, e entender melhor a nós mesmos. E, da mesma forma, é preciso estar sempre atento para não cair em julgamentos apressados, ou até mesmo preconceituosos. É um aprendizado contínuo que faz referência à nossa própria identidade, às experiências que vamos vivenciando e às elaborações conceituais com as quais tomamos contato pela primeira vez, ou que já conhecíamos e reavaliamos a partir desta nova realidade que é cada dia a mais de vida. Educação continuada é isso, ou deveria ser isso. Eu creio que frases bonitas do tipo “juntos é mais fácil”, “juntos somos fortes” ou “um mais um é sempre mais que dois” espelham uma verdade, mas não espelham toda a complexidade que está implicada nela.
            A questão da participação possui uma dimensão política dirigida a procurar mudar a sua percepção no seio da sociedade como um todo, e avançar no sentido de uma legislação e instituições que incorporem seus princípios e práticas. Possui uma dimensão organizacional que diz respeito a abrir mais espaços para a sua prática no cotidiano do trabalho, como primeiro passo para aperfeiçoá-la e aumentar o número de pessoas envolvidas e comprometidas. E possui uma dimensão individual que se refere à postura pessoal frente ao desmonte da generalização das relações estratégicas e a busca da construção de consensos verdadeiros, de forma comunicativa. Se levarmos em conta as contribuições de Habermas, Kholberg e Bion, a possibilidade de construir um plano consensual de ação, por meio do diálogo, pode depender não só da alteridade de cada uma das pessoas envolvidas, mas também do estágio de desenvolvimento dos juízos morais dos participantes e do estado emocional do grupo de trabalho naquele momento específico.
            O campo da educação é um espaço privilegiado com relação tanto à possibilidade de vir a discutir a participação, como para a sua vivência por meio de experiências e manifestações distintas. A gestão escolar passa tradicionalmente pelo convívio e participação em órgãos colegiados como conselhos e o trabalho em comissões. O processo de aprendizado, desde a discussão e elaboração de uma proposta pedagógica, até a sua prática e avaliação, é todo permeado pela questão da participação, pelo incentivo à interação de cada um com os colegas e com os demais segmentos envolvidos. Creio também que há um consenso, pelo menos em nível teórico, a respeito de que a transmissão de conhecimento não é um ato de mão única, mas que aprender e ensinar devem andar juntos, o que só pode ocorrer a partir do desenvolvimento da sensibilidade de cada um para com o outro. Ou seja, a aptidão para o diálogo tanto é uma necessidade para o sucesso das formas participativas de organização do trabalho, como é uma necessidade para o sucesso do processo pedagógico.

GUTIERREZ, Gustavo Luís. Por que é tão difícil participar?: O exercício da participação no campo educacional. São Paulo: Paulus, 2004. (p. 57-59)

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