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"Prefeito não tem pai"

FONTE: JORNAL O POVO


MENU POLÍTICO 19/01/2014

"Prefeito não tem pai"





"GRACILIANO RAMOS, QUE TODOS RECONHECEM COMO UM DOS MAIORES ESCRITORES BRASILEIROS, porém poucos sabem que eletambém foi um dos melhores prefeitos que o Brasil já teve"Em artigo que escrevo às quintas-feiras para a editoria de Opinião, abordei a “Choradeira dos prefeitos” 
(http://goo.gl/Kv7bdu), depois que os nobres chefes de Executivo do interior passaram a se queixar da falta de recursos públicos para pagar o salário mínimo de R$ 724, vigente a partir de janeiro.

O valor talvez seja menos do que alguns deles gastam, em poucos dias, para abastecer as suas possantes 4x4, que usam para visitar, de vez em quando, a cidade que administram, posto que preferem morar em Fortaleza, pois ninguém é obrigado a habitar locais de poucos recursos, como a maioria das cidades da hinterlândia cearense.


Depois me ocorreu que poderia escrever alguma coisa que lhes servisse de inspiração para amealhar recursos e fazer frente ao exuberante reajuste do mínimo. Todos sabem que o salário é reajustado todo ano - e já faz algum tempo, acima da inflação - mas, como os prefeitos são muito ocupados, eles ficam sem tempo para se precatar dessas minúcias.


Foi então que me lembrei de Graciliano Ramos, que todos reconhecem como um dos maiores escritores brasileiros, porém poucos sabem que ele também foi um dos melhores prefeitos que o Brasil já teve, nos parcos três anos em que comandou a Prefeitura de Palmeira dos Índios (AL), entre 1927 e 1930. Do período, Graciliano legou-nos dois relatórios - prestação de contas ao governador de Alagoas -, nos quais expõe seu método de trabalho, muito avançado, mesmo passados mais de 80 anos, comparando-se com o que ainda campeia por essas plagas.


Para começar, no primeiro ano de mandato Graciliano aumentou em 43% a receita prevista. Para conseguir o feito, agiu deste modo: “Não empreguei rigores excessivos. Fiz apenas isto: extingui favores largamente concedidos a pessoas que não precisavam deles e pus termo às extorsões que afligiam os matutos de pequeno valor, ordinariamente raspados, escorchados, esbugrados pelos exatores”. Quanto às “lamúrias, reclamações, ameaças, guinchos e coices” que recebia dos queixosos: “Fechei os ouvidos, deixei gritarem, arrecadei 1:325$500 de multas”. O mestre Graciliano revolucionou a pequena Palmeira dos Índios: limpou a cidade, proibiu a criação de animais soltos nas ruas, investiu em bairros pobres, melhorou a educação e abriu estradas. De quebra, confrontou a corrupção: “Dos funcionários que encontrei em janeiro do ano passado restam poucos: saíram os que faziam política e os que não faziam coisa nenhuma. Os atuais (...) cumprem suas obrigações e, sobretudo, não se enganam em contas”. Ele tinha consciência do resultado de suas ações: “Se a minha estada na prefeitura por esses dois anos dependesse de um plebiscito, talvez eu não obtivesse dez votos”. E ainda: “Perdi vários amigos, ou indivíduos que possam ter semelhante nome. Não me fizeram falta”. 


Para Graciliano, o interesse público estava acima de questões pessoais e familiares. Ele não perdoou nem mesmo o pai, multado por deixar animais soltos, proibido pelo código de posturas do município. O velho foi queixar-se na prefeitura e ouviu a reprimenda do filho:

- Prefeito não tem pai, a lei vale para todos.
(Então? Qual prefeito se habilita a seguir o exemplo de Graciliano?).

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