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Lições do rebelde esquecido

Fonte: jornal O POVO

ARTIGO 18/05/2014

Lições do rebelde esquecido




Cláudio Ferreira Lima
claudiofl@secrel.com.br
Economista

Ronaldo Conde de Aguiar intitula a biografia que fez de Manoel Bonfim (1868-1932), lançada em 2000 pela Topbooks, de O Rebelde esquecido. Mas por que rebelde esquecido? 

Manoel Bonfim é um dos mais injustiçados intérpretes do Brasil. Nunca se prendeu aos padrões geralmente aceitos. Livre pensador, sem as peias dos cânones acadêmicos e dos humores dos donos do poder, incomodava com sua crítica mordaz, porém necessária à construção de uma sociedade justa e solidária. Era, como na definição de Milton Santos, um intelectual verdadeiro, que existe para criar o desconforto, pois este é o seu papel. E assim prestou bons serviços ao país.

O maciço central da sua obra, que se desenvolveu entre o fim do Império e a consolidação da República, compõe-se, segundo Antonio Candido (Radicalismos, palestra no Instituto de Estudos Avançados – IEA, em 28/9/1988), de A América Latina (1905), O Brasil na América (1929), O Brasil na História e o O Brasil Nação, ambas de 1931.

Com suas posições sempre firmes e irreverentes ante as certezas do seu tempo, contrariava respeitáveis figuras da nossa intelectualidade. Por exemplo: discordava com toda a veemência do pensamento corrente de que o atraso irremediável da América Latina e do Brasil devia-se às raças inferiores ou misturadas e à inclemência do clima tropical, não nos restando outra saída senão nos ajoelhar passivamente diante dos povos superiores. Para ele, o atraso, que não tinha nada de irremediável, devia-se, isto sim, ao parasitismo colonial e à visão tacanha das elites locais, que comandavam a sociedade em proveito dos seus próprios e exclusivos interesses.

Segundo Conde de Aguiar, a súmula do pensamento de Manoel Bonfim encontra-se em O Brasil Nação, obra de maturidade escrita no leito de doente terminal de câncer. Nela, insurgia-se ele, entre outras coisas, contra o analfabetismo, que fazia do Brasil uma democracia com 90% de indivíduos sem voz nem voto. Mas como tornar o ensino popular e massivo? Como fazer com que as elites abandonassem a visão tacanha que impedia esse avanço? Então, chegava-se ao impasse, e assim não havia como divisar os destinos desta pátria nos planos da normalidade. (O Brasil Nação – Realidade da Soberania Nacional. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996).

Os “homens das classes dirigentes”, conforme Manoel Bonfim, “não suportam que as coisas mudem em torno deles. Adotam as ideias, aceitam as palavras, mas não podem aclimatar-se às coisas que essas palavras designam” (América Latina – Males de Origem. Rio de Janeiro: Topbooks, 2005, p. 177).

Enquanto isso, há políticos ousados... de ideias, radicais, e até revolucionários; mas, obedecendo a uma necessidade íntima de organização afetiva, acham sempre o meio de explicar que não querem ser mais que conservadores. E de fato é o que eles são (op. cit., p. 178).

Enfim, raros, raríssimos mesmo são os rebeldes que, a exemplo de Manoel Bonfim, arriscam o pescoço pelas grandes causas nacionais. E como o país está precisando deles!

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