FONTE : O POVO
ARTIGO 07/09/2013
JORNAL DE HOJE
OPINIÃO
Mercado de
trabalho médico, Estado e sociedade
O
mundo capitalista do trabalho vive permanente tensão entre as reproduções da
força de trabalho e do capital, segundo a clássica formulação marxista, não
superada teórica ou politicamente. E isso nos obriga a refletir sobre cada
categoria profissional, em cada formação social específica. É o caso do
trabalho médico, no Brasil atual.
Sob a hegemonia das leis do mercado,
marcadas ética e logicamente por lucro e agregação de valor, o trabalho médico
tende a se concentrar, onde o fazem dinheiro, possibilidades de consumo,
tecnologias de ponta, dispositivos de prestígio e sucesso. Assim, abandonam-se
o serviço público, o interior do País e as periferias socialmente
desqualificadas das cidades. Cada médico, fortalecido, pode submeter os
secretários da Saúde ao arbítrio de suas exigências: só assumo se por R$ 40
mil/mês e somente três dias/semana.
Sob a hegemonia das leis do Estado,
marcadas ética e logicamente por impessoalidade, universalidade, direitos e
deveres, o trabalho médico tende a ser transformado em peão estratégico de
políticas massificadoras, com alocação compulsória e nivelamento de formação e
de agregado tecnológico. Assim, abandonam-se os
estímulos à educação continuada e aos ideais de aprimoramento, pela rotina
burocrática e acrítica das práticas. Cada secretário da Saúde, fortalecido,
pode submeter os médicos ao arbítrio de suas exigências: só pago R$ 4 mil/mês,
por cinco dias/semana e um plantão/mês adicional.
Este momento testa a inteligência
política das associações médicas – socioculturais, sindicais, reguladoras –
para o exercício da articulação e do equilíbrio. Tornar-se feitoria do Estado,
aderindo ao autoritarismo patrimonialista e à captura pelo condomínio
situacionista, as deslegitima.
Tornar-se feitoria do mercado,
aderindo ao corporativismo xenófobo e à captura pelo condomínio oposicionista,
as deslegitima. Essas hegemonias resultam em perversões simétricas. Mas, hoje,
sobra sentimento de irrelevância e falta inteligência política.
Jackson Sampaio
jose.sampaio@uece.br
Reitor da Universidade Estadual do
Ceará (Uece)
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