O POVO- Jornal de Hoje
OPINIÃO- ARTIGO
06/01/2013
Obama
chora loucura americana
O instinto de morte, "sempre
prestes a explodir", é encoberto pela superficialidade no consumo
O presidente dos EUA, Obama, ao
comentar o mais recente morticínio no seu país, não conteve as lágrimas. A
imprensa mundial se resume a mostrar a repetição de atrocidades, que quase já
são anunciadas para o mês seguinte. Creio que existe uma espécie de furor
assassino e guerreiro inscrito na mentalidade cultural norte-americana. O
assassinato de presidentes desde Lincoln a Kennedy não inclui outros que
morreram em consequência de atentados, mostrando a dimensão da belicosidade na
intimidade política daquele país.
A nação líder do capitalismo mundializado lidera as guerras de dominação
no mundo, possui a estrutura militar mais sofisticada do planeta, enquanto sua
indústria supre a maior parte do mercado mundial de armas. A consciência social
impregnada de competitividade destrutiva transforma cada indivíduo num Narciso,
em cujo espelho está a imagem de James Bond.
A violência brasileira tem origem na pobreza, a violência islâmica
mistura política, pobreza e religião, enquanto nos EUA a riqueza armada até os
dentes transtorna a mente narcísico-fetichista. Os fetiches da arma e do
dinheiro são alimentos ingeridos pela mente, onde predomina a vaidosa
arrogância. Qualquer descontentamento pode açular o guerreiro vingador que mata
para gratificar a constante frustração, produzida na sociedade do trauma por
diferenças mínimas.
Em 1927, um homem matou 57 pessoas numa escola norte-americana
inconformado com as notas que o colégio atribuíra ao filho. O número exato de
soldados norte-americanos que após retornarem das inúmeras guerras promovidas
pelo seu país matam a família inteira por qualquer discussão trivial nunca foi
exposto pela imprensa americana desde a Proclamação da Independência. O mercado
interno da indústria armamentista nutre clubes de tiro e colecionadores de
arma, espalhados por todo o território nacional, estimulando constantemente o
narcisismo assassino latente na sociedade e no indivíduo.
O instinto de morte, “sempre prestes a explodir”, é encoberto pela
superficialidade no consumo, ao lado da permanentemente proclamada defesa da
liberdade e do direito individual. O individualismo e narcisismo exacerbados
combinam-se com a ideia de aumento do patrimônio e da riqueza como único
objetivo da vida. O economista norte-americano Gary Becker, prêmio Nobel,
demonstrou, segundo o gosto acadêmico nacional pelas estatísticas, que as
relações afetivas familiares e entre marido e mulher são substituídas pelo puro
interesse custo-benefício; portanto, a mulher passa a valer pelo dote em
dinheiro, enquanto o homem é prestigiado pelo patrimônio familiar.
Dentro desse sistema político, cuja virulenta cultura se espalha pelo
mundo como american way of life, o ser humano busca abrigo nas religiões
salvacionistas que também trocam o céu pelo dinheiro! Obama, que já esbarrou no
conservadorismo político ao tentar implementar seu programa de saúde, agora
esbarra na indústria bélica ao propor a limitação de vendas de armas aos
cidadãos. O caldeirão da bruxa armamentista produz fetiches, mas o feitiço se
volta contra o feiticeiro.
Valton
de Miranda Leitão
valtonmiranda@gmail.com
Psicanalista
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