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Do outro lado do front

FONTE: O POVO
 Jornal de Hoje
ARTIGO 01/07/2013
Do outro lado do front

Plauto de Lima
plautoroberto@gmail.com

Major da Polícia Militar


Manifestações, greves, tumultos já vi e vivi tudo isso de dentro do front, na linha de contenção, como policial militar. Mas desta vez foi diferente, fui instigado pela curiosidade e sensibilidade de perceber que não teria outra oportunidade como aquela do dia 19 de junho. A Seleção pode voltar aqui em qualquer tempo, mas essa multidão nas ruas apaixonada e clamando por mudanças só acontece, pelo menos, de 20 em 20 anos, assim registra os livros de história do Brasil. Decidi viver esse momento histórico no outro lado do front, sentindo o calor juvenil das ruas tomadas por gritos libertários de justiça, igualdade e paz.
A última vez que isso ocorreu no País, no movimento “Fora Collor”, eu era um jovem tenente da Polícia Militar e os meus superiores me ensinaram que tudo aquilo era uma ameaça à ordem, e não um avanço democrático. Talvez tenha sido isso que foi falado para aqueles jovens policiais que vi no front, afinal, mesmo passados mais de 20 anos após a promulgação da Constituição Cidadã, essa instituição ainda não mudou com as mudanças, sendo que democracia e cidadania são produtos raros nos quartéis.

Curiosamente, quando caminhava no meio da multidão e passava pelos policiais, logo era reconhecido e ato contínuo, eles perfilavam e prestavam o cumprimento da continência para o hoje major. No olhar deles dava para perceber a angústia de um coração dividido entre a razão e a emoção, contidos por um regulamento disciplinar encarcerador, que impôs naquele dia uma jornada ininterrupta de 13 horas de serviço, sem nenhuma remuneração extra, alimentados no meio da rua, uma vez no dia, com uma “quentinha” fria, talvez por isso chamada de “ração”. 

Caminhei mais um pouco e logo encontrei um oficial, também major, que estava trabalhando. Amigo de turma da Academia de Polícia, ele me abraçou no momento em que a multidão começou a entoar o hino nacional, tantas vezes ouvido e cantado por nós nas solenidades militares, mas nunca carregado de tanta emoção.

Não levei faixas nem cartazes para aquele ato repleto de diversas reivindicações, todavia as lições daquela manhã me impulsionaram a refletir e clamar por uma profunda reforma nessa importante instituição, cujo foco deveria ser, não a manutenção da ordem, mas a manutenção da democracia.


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