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Os gritos que não ecoam

O POVO/ OPINIÃO/ JORNAL DE HOJE
22/07/2013

ARTIGO


Os gritos que não ecoam






Walter Filho

walterfilhop@hotmail.com

Promotor de Justiça

O Brasil atravessa momentos de convulsões sociais; desde os protestos legítimos aos gestos de incivilidade que eclodem nesta “terra de ninguém” – a ausência do Estado é fator decisivo para as cenas brutais protagonizadas, e pelo inferno que vivemos no dia a dia de nossas vidas – malfeitores rodam a cidade.

Neste cenário caótico, no entanto, há gritos que jamais ecoam, eles não estão nas ruas, mas justamente nos hospitais públicos, alguns são verdadeiros matadouros humanos, onde os pacientes são tratados rudemente por profissionais de saúde – com exceções de abjurados que se sacrificam diante das péssimas remunerações e ambientes sórdidos. Que desatino!

Doentes estão nas filas esperando uma cirurgia que pode levar mais de ano. Na contagem do tempo são obrigados a conviverem com a dor e a desesperança – são seres sem dinheiro e sem os caríssimos (atendimento ruim) planos de saúde (o SUS da minha infância inolvidável).

A presidente Dilma, em uma de suas falas, disse que 700 municípios não possuem sequer um médico, o que espelha vileza para gestões públicas de ontem e agora. É o retrato da opção por gastos estratosféricos nos faraônicos templos esportivos (legado de espancamentos, vandalismos e sangue no primeiro round), além de outras sangrias e desperdício na fazenda pública.

Pesquisa do IBGE em 2008 dizia que 26,3% dos brasileiros possuíam plano privado. Hoje, não deve ter aumentado quase nada, portanto, existem aproximadamente 140 milhões de pessoas que buscam socorro na rede oficial. É o momento de maior agonia. Na urgência clamam aos céus, e a expiação é regra nessa jornada de terror.

Aparelhos são desligados no repouso noturno; a “máfia das funerárias” age silenciosamente. Gritos e sussurros são abafados pelo manto da maldade. Os mais velhos são alvos fáceis – para muitos a idade já justifica o ato “piedoso” – e o diagnóstico é simplificado. Na verdade, são desalmados agentes da morte num mercado de horrores – vil noite que me atormenta. 

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