O SUS, as crianças e o Hospital Geral de Fortaleza
Reportagem publicada na edição de ontem mostra a situação dramática
em que se encontra o atendimento médico-pediátrico em Fortaleza. Nos
últimos 10 anos foram fechadas 16 unidades de atendimento pediátrico
subsidiadas pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Os hospitais suspenderam o
convênio alegando que o SUS tem baixa remuneração para os procedimentos
médicos. Com isso, as instituições públicas ficam cada vez mais
lotadas.
É fato que existe má gestão; além de canalhas
de toda espécie – no serviço público e no “mercado”– com coragem
suficiente para condenar crianças à morte, ao cometerem as mais diversas
falcatruas com o dinheiro da saúde.
Mas também precisam
pôr a mão na consciência aqueles que demandaram contra a Contribuição
Social da Saúde, chamada de “nova CPMF”, que cobraria 0,1% sobre a
movimentação financeira de pessoas que tivessem salário ou renda acima
de R$ 3.038.
No entanto, isso não pode servir de justificativa
para a indigência do atendimento nas unidades de saúde sob a
responsabilidade dos governos federal, estadual e municipal.
Um dos casos levantados por repórteres do O POVO
é de uma menina, dois anos de idade, que está na fila do Hospital Geral
de Fortaleza (HGF) há um ano, esperando um procedimento que não parece
muito complicado: a desobstrução das vias lacrimais. A obstrução provoca
corrimento constante de secreção de seus olhos.
Com a demora
do atendimento, começou um processo inflamatório, o que provoca
secreção purulenta e dor. Hoje, talvez seja necessária uma cirurgia para
devolver-lhe a saúde dos olhos. As justificativas dos dirigentes do
hospital, as mais diversas. Nenhuma delas se pode aceitar sem
indignação.
Recentemente o governador Cid Gomes teve um
mal-estar e foram mobilizados diversos médico do HGF para atendê-lo. Não
estou sugerindo, nem de longe, que o atendimento ao governador fosse
negligenciado. Mas é inaceitável que uma criança fique em situação como a
descrita, por mais de um ano, junto com outras 46 que estão na mesma
fila.
Plínio Bortolotti
plinio@opovo.com.br
Artigo
17/05/2012
Diretor Institucional do Grupo de Comunicação O POVO
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