Diário do nordeste
opinião
IDEIAS
30.03.2013
Vidas secas
Quando a seca chega no sertão
nordestino, fenômeno natural bastante conhecido e estudado desde o século XVI,
fica evidente que o problema é fundamentalmente de ordem política. A tragédia
da seca encobre interesses escusos daqueles que têm influência política ou são
economicamente poderosos, que procuram eternizar o problema e impedir que ações
eficazes sejam adotadas. Utilizam-se do clamor dos flagelados para captar
recursos do Estado em benefício próprio, com o pretexto de combater as mazelas
do fenômeno climático. Como se a estiagem fosse algo novo e imprevisível,
ensaiam de forma orquestrada o enredo da tragédia tendo como pano de fundo os
tons marrons da terra seca, dos galhos retorcidos e os olhos tristes e famintos
de homens e animais. Os prefeitos atores principais da trama decretam logo de
imediato Estado de Emergência e alardeiam o caos generalizado. Em seguida os
governadores convoca secretários, deputados e senadores e todos enfileirados em
um só coro marcham rumo a Brasília. O governo lança de forma emergencial um
pacote de medidas que chega a ser risível diante da vasta produção científica a
cerca de como se conviver com o semiárido. Além da vontade política é preciso
também a mobilização da sociedade. Enquanto o povo nordestino aceitar
passivamente a perpetuação de práticas assistencialistas e do clientelismo que
assume novas formas, mas mantém sua essência no trato da estiagem, o quadro
dantesco se repetirá. Enquanto a solidariedade pontual e os bálsamos
emergenciais baseados na distribuição de água e comida continuarem a
prevalecer, nada vai mudar de verdade.
Sergiano de Lima Araújo
Geógrafo, professor da Uece
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