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A primavera de São João

ARTIGO 19/06/2013



A primavera de São João


A explosão das ruas, iniciada durante o mês de junho, reflete muitas coisas importantes. Podemos ter várias explicações. Uma das minhas chaves de leitura é que esses movimentos refletem: Primeiro, o experimento de 12 anos de governo petista que apostou de forma linear na organização do capitalismo por meio da dinamização do mercado interno de consumo. Para isso, elegeu como consumidor os miseráveis (com o Programa Bolsa Família) e os pobres (com uma política de aumento real do salário mínimo e pela disponibilidade de crédito fácil para o consumo). Uma política que transformou parte dos miseráveis em pobres, que promoveu a popularidade do governo deixando felizes e ricos alguns setores do mercado.
Segundo, uma política macroeconômica que reduziu a cidadania à condição de consumidor em detrimento do acesso aos direitos e bens culturais. Assim, não promoveu o empoderamento dos indivíduos nem das organizações sociais, mas privatizou a política e cooptou parte da sociedade civil por meios de convênios, repasses de recursos e editais dirigidos que terceirizam as políticas públicas.


Terceiro, uma política linear de mercado que deixou descuidado, até entrar em colapso, o sistema nacional de segurança pública, o sistema nacional de saúde, o sistema de transportes urbano e que se demonstrou incompetente para aproveitar os bons momentos da conjuntura internacional para implantar uma política industrial sólida.


Quarto, uma política de alianças conservadora com os setores mais atrasados da sociedade, fortalecimento do agronegócio e o abandono da defesa de uma política de reforma agrária e de defesa dos povos indígenas. Implantação de uma política de privatização dos portos e aeroportos e o acolhimento de uma copa do mundo de forma desastrosa, que desrespeita direitos humanos, que onera os cofres públicos e na qual o governo se comporta de forma subserviente diante das exigências escabrosas da Fifa.


As vozes e os corpos cidadãos nas ruas se rebelam contra tudo isso, contra a privatização da política, contra a falência do sistema de representação. As multidões vão às ruas para representar a si mesmas, para mostrar seu descontentamento. Trata-se de uma aposta na reinvenção da política. Trata-se de um momento em que o novo surge surpreendendo o mundo, mesmo que, ainda, não seja de forma totalmente definida, e o velho, perplexo e atônito fica apavorado com medo do atestado de invalidez.

Uribam Xavier
uribam@ufc.br

Professor de Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC)


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