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Onde estão os indignados?



ARTIGO 06/06/2013

Onde estão os indignados?

O personagem Oblomov, do livro homônimo que acaba de ganhar uma boa tradução para o português, não sai do sofá. Filho da decadente aristocracia, ele não toma decisões importantes nem realiza ações significativas nas primeiras 150 páginas do 
romance
, publicado em 1859 por Ivan Gontcharov. Tal comportamento, inclusive, cunhou um termo utilizado pelos russos, oblomovismo, como sinônimo de inércia.
Lia um trecho do livro quando noticiaram os protestos na Turquia. As manifestações contra o autoritarismo, que passaram a envolver nuances políticas e religiosas, tiveram um estopim interessante, para não dizer atípico: a revolta de parte da população com a derrubada de árvores de uma praça para a construção de um shopping. Diante da perspectiva de perder a última área verde no centro de Istambul, os turcos foram às ruas e os protestos ganharam força, incorporando outros temas.

Em Fortaleza, já derrubaram um quarteirão de árvores do dia para a noite, ocuparam as dunas e espreitam o que resta do ecossistema do Cocó de forma acintosa – da mesma forma que a praça Taskim, é praticamente nossa última área verde. Sofremos, igualmente, com o autoritarismo mal disfarçado por trás dessas ações. Sem falar do sistemático descaso com a segurança, a educação e o patrimônio histórico, além de uma infinidade de questões que afetam a todos. Não deveriam faltar motivos para indignação. Mas onde estão
os indignados?

Com notável capacidade de articulação e empoderamento, a internettem sido eleita o lugar por excelência das manifestações. Contudo, ela parece ser utilizada menos como um meio e mais como um fim, gerando aquilo que se chama de ativismo de sofá, ao estilo Oblomov. Muitos se satisfazem nesta zona de conforto. Sem entrar no mérito da longa – e necessária – discussão sobre mobilização e imobilidade social nos tempos da comunicação em rede, vale se perguntar até que ponto curtidas e compartilhamentos não passam de ecos que pouco repercutem para além das quatro linhas da tela e onde está nossa vontade política de buscar mudanças.

Luciana Andrade
luciana.andrade@gmail.com 

Jornalista e doutoranda em história na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC/SP)

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