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As manifestações e o avanço da luta urbana

fonte: o povo
  05/08/2013

CONJUNTURA

As manifestações e o avanço da luta urbana

"A classe política se sustenta com base na fórmula: clientelismo e autoritarismo mais poder econômico"

Muitos não compreendem a “repentina” ascensão das mobilizações nas cidades brasileiras. Acham que são difusões. Mas são convergências. Convergências de insatisfações, organizações e ações. Encontramos no conteúdo das reivindicações o nexo entre passado e presente, conexões entre sujeitos que compartilham lutas e solidariedades.

Nas cidades sempre há lutas por: acesso ao solo para moradia; infraestrutura urbana e social: água, saneamento, drenagem, áreas ambientais, espaços de lazer, educação, saúde, transporte público; participação na definição de prioridades. Também lutas contra opressões raciais, sexuais, geracionais etc.

Milhares foram às ruas tendo como estopim o transporte público, disparando uma série de insatisfações com a incapacidade do Estado em garantir os direitos sociais – em Fortaleza, vários bairros populosos têm problemas de abastecimento de água e saneamento. Educação e saúde pública completam o quadro de precariedades.

Além disso: aumento dos despejos provocados por nova onda de valorização e expansão imobiliária; remoções de comunidades para construção de empreendimentos elitistas; aumento das violências.

É relevante que a contestação à Copa seja ponto de convergência dos sujeitos que se mobilizam. A Copa e outros megaeventos representam investimentos concentradores de riquezas para as elites de sempre.

A classe política se sustenta com base na fórmula: clientelismo e autoritarismo mais poder econômico. Soma-se a isso a perda da referência em partidos de esquerda e sindicatos. É nesse caldo que nascem novos movimentos sociais urbanos nos anos 2000, articulando luta de classes, direito à cidade, autonomia política, diversidade cultural. São grupos, coletivos, indivíduos ativos, em diversos espaços e tempos geracionais. Assim se germinou o sentimento contestatório que virou consciência e ação contestatória.

São vitórias para os lutadores do cotidiano: a convergência e ressonância de pautas fundamentais das cidades; o chacoalhar da ordem dominante, com a desmoralização de veículos de comunicação e dos governos autoritários deste país subordinados ao capital – o controle e gestão do transporte público ou do solo urbano provam essa submissão.

As ruas ameaçam a ordem que governa e explora as cidades. As manifestações se dirigem aos seus símbolos: sedes de governos, emissoras de TV, estádios de futebol; ocupam praças, avenidas, estações, enfrentam a polícia, não aceitam bloqueio ou dispersão.

Quem teme as mobilizações distorce, manipula, tenta disputar os rumos. Não conseguem dominar aquilo que precisam deter e buscam provocar divisões: pacíficos, vândalos, partidários, antipartidários. Mas nas manifestações o que vemos são setores segregados pela cidade do capital se encontrando e buscando linguagens comuns. E o que é a Revolução Urbana senão o fim das segregações e dos modelos impostos de cima pra baixo, a realização da diversidade em sua eterna mutação, a democracia direta e o controle dos territórios pelas populações.

Igor Moreira
igormoreirap@gmail.com
Militante do Movimento de Conselhos Populares (MCP)


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