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Coitados dos farsantes

FONTE: caderno3
Diario do Nordeste

COLUNA
Gervásio de Paula
caderno3@diariodonordeste.com.br
14.08.2013

Coitados dos farsantes


O pai que bate nos filhos não tem moral para convencer, com argumentos carinhosos, os rebeldes infantes.

A mãe dificilmente toca num pequenino, porque a doçura de seu carinho convincente só se compara ao dos avós. A não ser as grossas que vivem espumando as raivas interiores.

Um avô ganha o afeto dos netos quando sabe usar a massa cinzenta cerebral como um instrumento de persuasão.

Um tio ganha o amor dos sobrinhos, se sabe conviver como bom amigo e pratica, com jeito, as maneiras de não entristecer seus semelhantes.
Uma empregada, com o decorrer do tempo e seus tratamentos afáveis, torna-se não apenas uma segunda mãe, mas, ao chegar à adolescência dos menores, torna-se sua confidente.
Um chefe de repartição que trata com grosseria seus subalternos cria um inimigo silencioso, um relapso empregado em surdina. Não adianta substituir aquele que acha antipático, porque tão logo ele sai do emprego repassa o bizu da autossuficiência do patrão. E, o triste resultado, subliminarmente, será o mesmo.
O técnico de futebol que procura humilhar jogador na frente dos outros cedo ganha, como recompensa, a antipatia e o desinteresse da equipe. E, se chegar ao conhecimento da torcida... Deus nos acuda!
O freguês que trata mal um garçom é presenteado com uma cusparada no preparar da comida, solicitada ao cozinheiro pelo ofendido.
A simpática vendedora de casas comerciais - seja de bijuterias, de objetos de couro, de joalheria, de roupas, de farmácias ou de perfumarias - sendo humilhada, não concede o bom abatimento no preço que poderia dar nas compras. O mesmo ocorre se a patada for recíproca. Adeus, freguês.
O chefe de sessão em serviço público que humilha seus servidores, ou trata-os indiferentemente, é recompensado no atraso das tarefas, com a galhofa na ausência do grosseirão e na sonegação de recados telefônicos recebidos.

Os servidores que tratam como simples moleques de recado os terceirizados dos serviços gerais merecem a repugnância dos modestos atendentes.
O namorado que não tem ciúme moderado de seu parceiro, assemelha-se ao personagem da fábula de Humberto de Campos (1886 - 1934), se a memória não me trai.

Um transeunte passou na feira livre. Viu um ceguinho, acompanhado de um guia, pedindo esmola. Resolveu dar uma caixa de uvas ao pedinte. Com a advertência de que, para todos comerem as frutas iguais, cada um tirasse a sua de cada vez.
No decorrer do tempo o ceguinho passou a tirar duas uvas. Nada do guia reclamar. O ceguinho bengalou o esperto e reclamou: "Se estou tirando duas uvas e você não reclama é porque está tirando quatro".
O mesmo ocorre com o administrador público. Se levar a campanha eleitoral fazendo promessas à sociedade e, após eleito, responde o prometido com policiais batendo nos cidadãos que - diante de nenhum cumprimento de campanha - se organiza para reivindicar pacificamente o que é seu, por direito - não consegue olhar para seus familiares sem remorso.
Por saber o que os filhos e as filhas, só pelos olhares, estão pensando: "coitado, meu pai é um farsante".

Pior ainda para a sociedade que enganosamente o elegeu. O médico, por exemplo que não escuta bastante os seus pacientes deveria se formar na honrosa especialidade de veterinária.

Os legítimos animais, pelo menos, não reclamam e não dizem o que sentem, embora deixem sinais dos sofrimentos, sejam melhor e, merecidamente, tratados do que certos tipos humano.
Os equivocados profissionais também poderiam seguir a carreira de político partidário, por não terem vocação para clínica médica - com raras exceções - mas para camelôs de promessas enganosas.
Aliás, esses que deixaram a medicina pelo carreirismo político partidário, por ausência total de vocação para a profissão, além de se julgarem mais sabedores das dores sentidas pelos doentes, prestam um grande serviço a humanidade: nunca exercitam a arte de Hipócrates, com diagnósticos confiáveis.
Coitados dos farsantes disfarçados de seres humano.


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